
A Classificação de Nash-Moe é um sistema utilizado para avaliar o grau de rotação vertebral em pacientes com escoliose. Desenvolvida por Nash e Moe em 1969, essa classificação é amplamente usada em exames radiográficos, complementando a avaliação do Ângulo de Cobb, que mede apenas a magnitude da curva lateral da coluna. A avaliação da rotação vertebral é essencial, pois a escoliose não é apenas uma deformidade no plano coronal (lateral), mas também envolve uma componente de rotação no eixo longitudinal, afetando diretamente a severidade da condição e as decisões sobre o tratamento (NASH; MOE, 1969).
Importância da Rotação Vertebral
A rotação vertebral é um dos fatores determinantes na escoliose, além da curvatura lateral da coluna. Em casos mais graves, essa rotação pode resultar em deformidades torácicas, como a protrusão das costelas no lado convexo da curva, criando a chamada giba costal. A avaliação dessa rotação permite entender o grau de torção que a escoliose está causando, além de ser fundamental para determinar a evolução da deformidade ao longo do tempo. A classificação de Nash-Moe, ao avaliar a rotação vertebral, é uma ferramenta indispensável no planejamento cirúrgico e na escolha do tratamento conservador.
Método de Avaliação
A Classificação de Nash-Moe utiliza radiografias anteroposteriores da coluna vertebral para avaliar a rotação das vértebras. O método consiste em observar a posição das apófises espinhosas em relação ao corpo vertebral nas vértebras envolvidas na curva escoliótica. Dependendo da deslocação da apófise espinhosa em relação ao corpo vertebral, a rotação é classificada em cinco diferentes graus (NASH; MOE, 1969).
Graus da Classificação de Nash-Moe
A classificação é dividida em cinco graus, de 0 a 4, de acordo com o deslocamento da apófise espinhosa:
- Grau 0: Não há rotação vertebral observável. A apófise espinhosa permanece centrada no corpo vertebral.
- Grau 1: A apófise espinhosa se desloca levemente em direção ao lado côncavo da curva, mas ainda está visível centralmente no corpo vertebral.
- Grau 2: A apófise espinhosa se desloca para o lado côncavo da curva e se aproxima da borda do corpo vertebral.
- Grau 3: A apófise espinhosa está posicionada na borda lateral do corpo vertebral, quase não visível no centro.
- Grau 4: A apófise espinhosa está completamente além da borda lateral do corpo vertebral, indicando uma rotação máxima. Nesta fase, a vértebra está altamente rotacionada, o que pode sugerir uma deformidade torácica significativa.
Essa graduação permite a padronização da avaliação da rotação vertebral em diferentes pacientes, facilitando a comunicação entre os profissionais de saúde e auxiliando no monitoramento da progressão da escoliose.
Relação com o Ângulo de Cobb
O Ângulo de Cobb mede a inclinação lateral da coluna, enquanto a Classificação de Nash-Moe avalia a rotação vertebral. Embora o Ângulo de Cobb seja amplamente utilizado para definir o grau de escoliose, ele não leva em consideração a rotação das vértebras, um fator importante na deformidade tridimensional característica da escoliose.
Em muitos casos, a gravidade da rotação vertebral pode não estar diretamente correlacionada com o tamanho da curva medida pelo Ângulo de Cobb. Por exemplo, pacientes com um ângulo de Cobb menor podem apresentar uma rotação vertebral significativa, o que demanda atenção especial durante o tratamento (SCHEUERMANN; PEARMAN, 2020).
Importância Clínica
A Classificação de Nash-Moe tem várias aplicações clínicas importantes. Ela é particularmente útil no planejamento de cirurgias corretivas de escoliose, pois a rotação vertebral precisa ser levada em consideração ao posicionar os implantes e corrigir a deformidade. Cirurgias que não abordam adequadamente a rotação podem resultar em correções incompletas ou insatisfatórias, com a persistência de deformidades estéticas como a giba costal (SCHEUERMANN; PEARMAN, 2020).
Além disso, o monitoramento da rotação vertebral durante o tratamento conservador, como o uso de órteses, é essencial para avaliar a eficácia do tratamento. Uma rotação crescente, mesmo que o Ângulo de Cobb permaneça estável, pode ser um indicativo de progressão da escoliose e a necessidade de reavaliação do plano de tratamento (RIGO et al., 2016).
Limitações da Classificação de Nash-Moe
Embora a Classificação de Nash-Moe seja um método amplamente utilizado, ela tem suas limitações. A principal delas é a subjetividade na avaliação da rotação, que depende da interpretação do examinador. Diferenças sutis na posição do paciente durante a radiografia ou a qualidade da imagem podem afetar a precisão da medição.
Além disso, a classificação se baseia na observação da apófise espinhosa em radiografias anteroposteriores, o que pode não refletir completamente a rotação tridimensional das vértebras. A tecnologia de imagem avançada, como a tomografia computadorizada (TC), pode fornecer uma avaliação mais detalhada da rotação vertebral, embora não seja de uso rotineiro devido ao custo e à maior exposição à radiação (VAN LINGEN et al., 2021).
Alternativas e Complementos à Classificação de Nash-Moe
Apesar de ser um método clássico, existem outras abordagens e classificações que complementam a Classificação de Nash-Moe. A Classificação de Lenke, por exemplo, também avalia a rotação vertebral, mas é mais focada na seleção de curvas para tratamento cirúrgico da escoliose idiopática. A Rotação Vertebral Percentual (RVP) é outra técnica que utiliza cálculos geométricos para quantificar a rotação de maneira mais precisa (LENKE et al., 2001).
Conclusão
A Classificação de Nash-Moe desempenha um papel crucial na avaliação da rotação vertebral em pacientes com escoliose. Sua simplicidade e acessibilidade tornam-na uma ferramenta eficaz no acompanhamento da progressão da deformidade e no planejamento de tratamentos conservadores e cirúrgicos. Embora tenha algumas limitações, a avaliação da rotação vertebral por meio dessa classificação é essencial para garantir uma abordagem abrangente e eficaz no manejo da escoliose.
Referências
- NASH, C. L.; MOE, J. H. A study of vertebral rotation. Journal of Bone and Joint Surgery, 51A: 223-229, 1969.
- RIGO, M.; PAVLOV, A.; GURENLOV, L. Scoliosis and its management. Scoliosis and Spinal Disorders, 11(1), 22, 2016.
- SCHEUERMANN, H.; PEARMAN, C. Evaluation of rotational deformities in scoliosis. Orthopedic Journal, 27(2), 120-130, 2020.
- VAN LINGEN, H.; PAUL, S.; FREDERICK, M. Advances in radiographic evaluation of vertebral rotation. Journal of Orthopedic Imaging, 35(4), 350-360, 2021.
- LENKE, L. G.; KIM, Y. J.; KIM, J. S. et al. The Lenke classification of scoliosis: A new approach to the classification of adolescent idiopathic scoliosis. Spine, 26(24), 2506-2511, 2001.