O termo “Escoliose Idiopática” foi primeiramente introduzido por Kleinberg em 1922 e refere-se a pacientes em que não se consegue identificar uma causa específica para a deformidade. Ela ocorre em crianças saudáveis e pode progredir devido a diversos fatores durante períodos de crescimento acelerado. Como o nome sugere, a origem da escoliose idiopática é desconhecida e provavelmente resulta de uma combinação de fatores. Do ponto de vista etiopatogênico, a deformidade na coluna causada pela escoliose idiopática é considerada um indicativo de uma síndrome com múltiplas causas envolvidas (NEGRINI et al., 2012).

Tipos de Escoliose Idiopática

A escoliose idiopática pode ser classificada em três tipos principais, com base na idade de início: infantil, juvenil e adulta.

Escoliose Idiopática Infantil

A escoliose idiopática infantil se refere a casos diagnosticados antes dos três anos de idade. Esse tipo é menos comum, representando cerca de 1% dos casos totais de escoliose idiopática. Embora algumas curvaturas possam se corrigir com o tempo, outras podem progredir rapidamente, especialmente se a curvatura inicial for significativa. O acompanhamento clínico próximo é essencial (KONIECZNY et al., 2013).

Escoliose Idiopática Juvenil

A escoliose juvenil se desenvolve na idade de 4 a 10 anos e compreende
10 a 15% de todas as escolioses idiopáticas em crianças, curvas não
tratadas podem causar complicações cardiopulmonares graves e curvas
de 30 ou mais tendem a progredir, 95% desses pacientes precisam de um
procedimento cirúrgico (KONIECZNY et al., 2013; COILLARD et al.,2010). O risco de progressão da curvatura aumenta durante o surto de crescimento da puberdade, e muitos casos de escoliose juvenil podem se tornar progressivos, necessitando de intervenção precoce (NEGRINI et al., 2012).

Escoliose Idiopática Adolescente

A escoliose idiopática adolescente é a forma mais comum e ocorre entre os 10 e os 18 anos de idade. Este é o período de maior risco de progressão devido ao rápido crescimento esquelético durante a puberdade é responsável por aproximadamente 90% dos casos de escoliose idiopática em criança. (KONIECZNY et al., 2013).

Escoliose Idiopática Adulta

A escoliose tem uma prevalência de mais de 8% em adultos com mais
de 25 anos e aumenta para 68% na idade de mais de 60 anos, causada
por alterações degenerativas na coluna vertebral envelhecida (KONIECZNY et al., 2013).

Etiologia

A escoliose idiopática é a mais comum de todas as formas de desvio lateral da coluna. Por definição, é uma curvatura lateral da coluna em uma criança saudável, para a qual uma causa atualmente reconhecível não foi encontrada.
Etiologias menos comuns, mas mais bem definidas, do distúrbio incluem escoliose de origem neuromuscular, escoliose congênita, escoliose em neurofibromatose e distúrbios mesenquimais como a síndrome de Marfan (SOSORT, 2006).

Epidemiologia

Em aproximadamente 20% dos casos, a escoliose é secundária a outro processo patológico. Os 80% restantes são casos de escoliose idiopática. A progressão da curvatura é mais provável durante surtos de crescimento, especialmente no início da puberdade (NEGRINI et al., 2018).

Diagnóstico

O diagnóstico inicial da escoliose é feito por meio da Avaliação Clínica, que inclui o exame físico, o Teste de Flexão Anterior de Adams e a medição do Ângulo de Rotação do Tronco com o uso do escoliômetro.

O escoliômetro é um dispositivo portátil semelhante a um nível de bolha, usado para medir a rotação da coluna e das costelas enquanto o paciente se inclina para frente. Para usá-lo, o paciente deve se inclinar à frente com os braços relaxados, e o examinador posiciona o escoliômetro na parte mais proeminente das costas. Uma leitura acima de 7 graus sugere a presença de escoliose, indicando a necessidade de investigação adicional (WRIGHT, 2016).

O diagnóstico definitivo é realizado com radiografias, que permitem determinar o grau da curvatura da coluna por meio do Ângulo de Cobb, o padrão-ouro para a avaliação da gravidade da escoliose (AEBI, 2005).

Exame Radiográfico

O diagnóstico definitivo de escoliose idiopática é realizado por meio de radiografias da coluna vertebral. Esses exames fornecem uma visão clara da curvatura da coluna e permitem a medição do Ângulo de Cobb, que é o padrão-ouro na avaliação da gravidade da escoliose. Para calcular o Ângulo de Cobb, são traçadas linhas paralelas às placas terminais das vértebras mais inclinadas no ápice da curvatura. O ângulo formado entre essas linhas define o grau da curvatura e ajuda a categorizar a gravidade da condição (AEBI, 2005).

Além do Ângulo de Cobb, é comum o uso da Classificação de Nash-Moe para avaliar a rotação das vértebras em casos de escoliose. Esse método mede a rotação axial das vértebras no ponto mais alto da curvatura, o que é essencial para o planejamento do tratamento, especialmente em casos mais severos (NASH; MOE, 1969).

Outro exame fundamental é a avaliação do Sinal de Risser, que mede o grau de ossificação da crista ilíaca, indicando o nível de maturidade esquelética do paciente. Essa informação é crucial, pois a escoliose idiopática tende a progredir mais rapidamente durante os períodos de crescimento. A classificação de Risser varia de 0 (nenhuma ossificação) a 5 (ossificação completa), e quanto menor o valor, maior o risco de progressão da curvatura (AEBI, 2005).

Gestão de Fisioterapia

A abordagem ao manejo fisioterapêutico para escoliose idiopática inclui as seguintes recomendações:

Os exercícios fisioterapêuticos específicos para escoliose (PSSE) são recomendados como o primeiro passo no tratamento da escoliose idiopática para prevenir ou limitar a progressão da deformidade e evitar o uso de órteses (NEGRINI et al., 2018).

O PSSE deve ser individualizado de acordo com as necessidades do paciente, o padrão de curva e a fase do tratamento. Recomenda-se que o PSSE siga uma das escolas que demonstraram eficácia por meio de estudos científicos, como a Escola de Schroth, a Escola de Lyon, a Escola de Barcelona (SEAS) e a abordagem Side Shift. Os exercícios devem ser planejados por fisioterapeutas especificamente treinados na abordagem que estão utilizando. A educação do paciente, suporte psicoterapêutico, monitoramento sistemático de resultados, avaliação da adesão do paciente e a verificação e modificação dos métodos durante a terapia são elementos cruciais do tratamento conservador (NEGRINI et al., 2018).

Eficácia dos Exercícios: “Estudos mostram que exercícios específicos podem reduzir a necessidade de coletes em alguns casos (NEGRINI et al., 2008).”

Uso de Colete

O uso de coletes ortopédicos é amplamente recomendado para prevenir a progressão da curvatura em casos de escoliose idiopática, especialmente em adolescentes (NEGRINI et al., 2015)

Em casos em que a curvatura da coluna está entre 25 e 45 graus, é recomendado o uso de um colete ortopédico. O objetivo do colete é prevenir a progressão da curvatura durante o crescimento. O colete deve ser usado por várias horas ao dia, dependendo da gravidade da curvatura e da recomendação médica.

Tipos de Colete

Existem vários tipos de colete usados no manejo da escoliose idiopática. Cada um é prescrito com base nas características da curvatura e nas necessidades individuais do paciente.

Por que o Colete 3D é frequentemente a melhor recomendação?

O colete 3D é frequentemente considerado a melhor recomendação para o tratamento da escoliose idiopática devido à sua capacidade de oferecer uma correção personalizada e adaptativa. Ao contrário dos modelos tradicionais, ele é projetado com base em imagens e medições precisas da coluna vertebral do paciente, utilizando softwares especializados que garantem um ajuste perfeito. Essa abordagem permite que o colete se adapte à forma do corpo do paciente e exerça forças corretivas mais eficazes nas áreas específicas onde a curvatura precisa ser tratada. Além disso, o colete 3D é geralmente mais confortável para os pacientes, o que aumenta a adesão ao tratamento e, consequentemente, melhora os resultados a longo prazo (SOSORT, 2016).

Resumo das Diretrizes do SOSORT

As diretrizes do SOSORT (Society on Scoliosis Orthopaedic and Rehabilitation Treatment) de 2016 oferecem uma abordagem baseada em evidências para o tratamento conservador da escoliose idiopática durante o crescimento. Elas fornecem orientações abrangentes para profissionais de saúde que lidam com essa condição, buscando otimizar o tratamento e melhorar os resultados clínicos (SOSORT, 2016). Os principais pontos incluem:

Recomendações das Diretrizes SOSORT

As diretrizes do SOSORT recomendam intervenções personalizadas, dependendo da idade do paciente, do grau da curvatura e do risco de progressão. As principais recomendações incluem:

Gestão Cirúrgica

A escolha entre tratamento cirúrgico e conservador deve considerar a gravidade da curvatura, conforme discutido por Bettany-Saltikov et al. (2015).

A cirurgia é indicada para curvaturas severas que excedem 45 a 50 graus ou para casos em que o tratamento conservador falhou. O procedimento mais comum é a fusão espinhal, na qual hastes de metal são usadas para alinhar a coluna e manter as vértebras na posição correta. Após a cirurgia, a mobilidade da coluna é reduzida, mas a progressão da escoliose é interrompida.

Conclusão

A escoliose idiopática é uma condição complexa, cujo manejo depende da idade de início, do grau da curvatura e do risco de progressão. Fisioterapia e o uso de coletes são fundamentais no tratamento conservador, enquanto a cirurgia é indicada em casos graves. As diretrizes do SOSORT oferecem orientações importantes para garantir um tratamento eficaz e personalizado.

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Escoliose

Referências

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