
Definição
A Instabilidade Cervical Clínica (ICC) é definida como a incapacidade da coluna cervical de, sob cargas fisiológicas normais, manter seu padrão usual de movimento sem provocar danos neurológicos, irritações, desenvolvimento de deformidades ou dor incapacitante (OLSON; JODER, 2001). Essa condição ocorre quando os mecanismos de estabilização passiva, ativa e neural da coluna falham em preservar a integridade estrutural e funcional durante atividades diárias, levando a sintomas como dor, rigidez, e, em casos mais graves, déficits neurológicos (WHITE et al., 1975).
Anatomia e Estrutura da Coluna Cervical
A coluna cervical, particularmente sua porção superior, é projetada para oferecer uma grande mobilidade, mas isso vem à custa de uma menor estabilidade, tornando-a vulnerável a lesões (OKEREKE et al., 2021).
A estabilidade da coluna cervical é garantida por ligamentos internos e externos, além dos músculos posturais circundantes. Esses componentes desempenham um papel fundamental na propriocepção, fornecendo informações ao sistema nervoso central para manter o controle postural (GROSS et al., 2016).
O sistema de estabilização da coluna vertebral é dividido em três subsistemas (VERNON; MIOR, 1991):
- Subsistema Passivo: Inclui as vértebras, articulações facetárias, discos intervertebrais e ligamentos da coluna vertebral.
- Subsistema Ativo: Composto pelos músculos e tendões que suportam a coluna.
- Subsistema de Controle: Consiste no feedback neural, que envolve os centros de controle neural e transdutores de força localizados em ligamentos e músculos (ANDERSON et al., 1991.
Etiologia e Causas
As causas da instabilidade cervical são diversas e incluem:
- Trauma: Tanto traumas maiores quanto microtraumas repetitivos podem causar instabilidade. Um exemplo comum é a lesão por “golpe de chicote” em acidentes de carro (NAZARI et al., 2018).
- Doenças Inflamatórias: Condições como artrite reumatoide e espondilite anquilosante podem causar erosão das estruturas vertebrais, aumentando o risco de instabilidade (BARBEITO; GUERRI-GUTTENBERG, 2014).
- Alterações Congênitos: Síndromes genéticas como Down e Ehlers-Danlos estão associadas a um maior risco de instabilidade atlantoaxial (KOTHE, 2018).
- Procedimentos Cirúrgicos: Cirurgias na região cervical, especialmente procedimentos invasivos, podem enfraquecer a estabilidade estrutural(COOK et al., 2005).
Sintomas e Avaliação Clínica
Os sintomas da ICC incluem intolerância a posturas estáticas, sensação de cabeça pesada, dor aguda e episódios frequentes de “travamento” do pescoço (WHITE et al., 1975).
Sintomas neurológicos, como dormência, fraqueza e perda de coordenação, podem aparecer em casos mais graves, sugerindo comprometimento das raízes nervosas ou da medula espinhal (GROSS et al., 2016).
A avaliação clínica deve incluir uma análise da coordenação neuromuscular, hipomobilidade da coluna torácica e instabilidade palpável durante os movimentos (VERNON; MIOR, 1991).
Testes Diagnósticos
Os testes mais utilizados para avaliar a instabilidade cervical incluem:
- Teste de Flexão-Rotação Cervical
- Teste de Estresse do Ligamento Transverso
- Teste de Resposta Muscular do Pescoço (ANDERSON et al., 1991)
Diagnóstico por Imagem
Exames de imagem, como radiografias dinâmicas e ressonância magnética, são fundamentais para confirmar o diagnóstico de instabilidade cervical e identificar lesões associadas, como danos ligamentares ou compressão neural (NAZARI et al., 2018).
Tratamento e Gestão
O tratamento conservador é geralmente a primeira linha de defesa para a ICC. Ele inclui:
- Educação Postural: Ensinar a postura adequada para reduzir as cargas na coluna.
- Exercícios de Fortalecimento: Visam os músculos estabilizadores profundos da cervical, como o longus capitis e o longus coli, que melhoram a resistência e o controle motor da zona neutra (GROSS et al., 2016).
- Exercícios de Propriocepção: Essenciais para restaurar a coordenação neuromuscular e o controle da mobilidade cervical (OKEREKE et al., 2021).
Medidas de Resultados
Para avaliar a eficácia do tratamento da instabilidade cervical, é importante usar instrumentos específicos e válidos. Os seguintes questionários são frequentemente utilizados:
- Índice de Incapacidade do Pescoço: Avalia a dor e a incapacidade relacionada ao pescoço⁵.
- Questionário de Bournemouth para Pescoço: Mede o impacto da dor cervical na qualidade de vida.
- Escala de Dor e Incapacidade do Pescoço: Fornece uma visão geral da intensidade da dor e das limitações funcionais (VERNON; MIOR, 1991).
Esses questionários ajudam a monitorar a progressão da condição e a eficácia das intervenções (COOK et al., 2005).
Tratamento Cirúrgico
Nos casos em que a instabilidade cervical é severa ou causa comprometimento neurológico, a estabilização cirúrgica pode ser necessária. Procedimentos como a fixação posterior ou a fusão cervical são usados para restaurar a integridade estrutural da coluna⁶. A escolha do procedimento depende de uma avaliação detalhada por exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) (BARBEITO; GUERRI-GUTTENBERG, 2014).
Gestão Fisioterápica
Após a cirurgia ou durante o tratamento conservador, a fisioterapia desempenha um papel central na reabilitação. O foco é fortalecer os músculos estabilizadores e promover uma melhor consciência corporal, evitando sobrecarga dos segmentos da coluna vertebral⁷.
A reabilitação é dividida em três fases:
- Fase Inicial: Consiste em exercícios de baixa intensidade para ativar os músculos estabilizadores profundos e reeducar a postura (GROSS et al., 2016).
- Fase Intermediária: Introduz movimentos mais dinâmicos e exercícios de resistência progressiva, focados na amplitude de movimento e na estabilização segmentar (OKEREKE et al., 2021).
- Fase Avançada: Inclui fortalecimento avançado e treinamento funcional, com ênfase na reintrodução gradual de atividades de impacto e na estabilização em diferentes posições (NAZARI et al., 2018).
Referências:
- OLSON, K. A.; JODER, D. Diagnosis and treatment of cervical spine clinical instability. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 31, n. 4, p. 194-206, 2001. DOI: 10.2519/jospt.2001.31.4.194.
- WHITE, A. A.; JOHNSON, R. M.; PANJABI, M. M.; SOUTHWICK, W. O. Biomechanical analysis of clinical stability in the cervical spine. Clinical Orthopaedics and Related Research, n. 109, p. 85-96, 1975. DOI: 10.1097/00003086-197506000-00011.
- OKEREKE, I.; MMEREM, K.; BALASUBRAMANIAN, D. The management of cervical spine injuries – A literature review. Orthopedic Research and Reviews, v. 13, p. 151-162, 2021. DOI: 10.2147/ORR.S324622.
- GROSS, A. R.; PAQUIN, J. P.; DUPONT, G. et al. Exercises for mechanical neck disorders: A Cochrane review update. Manual Therapy, v. 24, p. 25-45, 2016. DOI: 10.1016/j.math.2016.04.005.
- VERNON, H.; MIOR, S. The Neck Disability Index: a study of reliability and validity. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, v. 14, n. 7, p. 409-415, 1991.
- ANDERSON, P. A.; HENLEY, M. B.; GRADY, M. S.; MONTESANO, P. X.; WINN, H. R. Posterior cervical arthrodesis with AO reconstruction plates and bone graft. Spine, v. 16, p. S72-S79, 1991. DOI: 10.1097/00007632-199103001-00012.
- NAZARI, G.; BOBOS, P.; BILLIS, E.; MACDERMID, J. C. Cervical flexor muscle training reduces pain, anxiety, and depression levels in patients with chronic neck pain by a clinically important amount: A prospective cohort study. Physiotherapy Research International, v. 23, n. 3, p. e1712, 2018. DOI: 10.1002/pri.1712.
- COOK, C.; BRISMÉE, J. M.; FLEMING, R.; SIZER, P. S. Jr. Identifiers suggestive of clinical cervical spine instability: a Delphi study of physical therapists. Physical Therapy, v. 85, n. 9, p. 895-906, 2005. DOI: 10.1093/ptj/85.9.895.
- BARBEITO, A.; GUERRI-GUTTENBERG, R. A. Inestabilidad cervical en el paciente quirúrgico [Cervical spine instability in the surgical patient]. Revista Española de Anestesiología y Reanimación, v. 61, n. 3, p. 140-149, 2014. DOI: 10.1016/j.redar.2013.07.001. Epub 2013 Sep 17. PMID: 24050606.
- KOTHE, R. Die rheumatische Instabilität der Halswirbelsäule: Diagnostik und therapeutische Strategien [Rheumatoid instability in the cervical spine: Diagnostic and therapeutic strategies]. Orthopäde, v. 47, n. 6, p. 489-495, 2018. DOI: 10.1007/s00132-018-3563-2. PMID: 29594321.
- Physiopedia: Cervical Instability
- PhysioTutors: Clinical Cervical Instability
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